Nunca fiz um comentário crítico sobre alguma obra dos irmãos Coen, confesso que não conheço a filmografia da dupla. Mas sobre a indisponibilidade de uma crítica razoavelmente boa em sites especializados é que decidi fazer a minha própria.
Fácil falar que o filme faz uma menção negativa a religião judaica, que em uma simples busca na web é possível saber que os irmãos nasceram sob esse contexto.
Somebody to love – Não é a montagem das cenas nem o posicionamento das câmeras que dá ao filme o ar punk. A música de Jefferson Airplane esquenta o esquema frio das cores usado pela fotografia. Ela está presente em algumas das principais cenas que envolvem o filho do professor de física Larry Gopnik, sendo a chave principal do filme. Confesso que conheci a música no clássico “Forrest Gump”, que dentre outras qualidades destaca a evolução musical dos Estados Unidos. Não entendo nada de música morte americana, porém a música deve ter um significado político e social forte.
Já que odeio ler spoilers em críticas vou tentar me abstrair deles.
Torá – Alguns amigos judeus já haviam me falado sobre um personagem que eles admiram bastante. O famoso rabino Rashi. Mas nunca fiquei curioso para pesquisar sobre ele, ou sobre saber das suas famosas frases de efeito minimalista. Acontece que Rashi apresentou um significado simples as complexas histórias do Torá e da Tanach – a bíblia hebraica.
Acontece que eu já tinha o conceito “Rashi-minimalista” em mente e pude esperar um filme com este significado quando vi na tela a seguinte frase: “Receive with simplicity everthing that happens to you”. É difícil de compreender que os diretores entregaram a grande sacada logo no primeiro frame.
O filme leva este conceito minimalista na produção de arte, no roteiro, nos diálogos simplórios, nas expressões dos atores, na montagem das cenas. A linguagem de que pouco é tudo aparece de forma muito espetacular em toda a composição.
Existem vários tipos de filmes. Aqui listo os que são feitos somente para o entretenimento, os que conseguem unir o entretenimento com a arte do significado, e os que usam da arte para apresentar um significado. O último exemplo citado pode ser difícil de engolir quando você quer só se divertir, e vê que precisa queimar um pouco dos neurônios para sacar a trama. “Um Homem Sério” é assim. Ele apresenta um roteiro que te prende, mas o contexto vai além, para uma aula de bom cinema e cultura judaica.
De propósito o título guarda outra sacada, o humor negro. Larry Gopnik é um grande homem sério, mas sua seriedade chega a ser escrachada por sua sinceridade, lealdade e loozer.
Não acho que o filme tenha uma continuação como li em outros sites, a forma inusitada como termina traduz bem o espírito da coisa. Receber com simplicidade o que acontece em nossas vidas, mesmo que a notícia que recebamos é a de morte. Daí a contradição otimismo X pessimismo.