A bonnificação do jornalismo
Ele é chamado de tio pelos tuiteiros e já foi acusado de ser orkutizador pelo YouPix. Mas isso é o que a internet acha. Na verdade é o editor-chefe e apresentador do maior telejornal do país, o Jornal Nacional. O nome dele, nem preciso falar, né? Willian Bonemer Júnior atende por Willian Bonner na Globo, e para mim é uma pessoa surpreendente como pessoa e como profissional. Eu gosto muito de sua apresentação e como ele conduz com maestria o JN. Sem falar que como pai de família parece ser fantástico. Mas não é nada disso que quero discutir. Quero falar sobre a importância dele para o jornalismo nacional. E quando falo jornalismo, gostaria de retratar a classe e ciência e não sociedade. Na terça-feira (10) iniciei um debate muito interessante a respeito do Willian Boner.
Tudo começou a partir de um tuite:
Desculpa, mas o q o Willian Bonner fez/faz de tão importante para o jornalismo?
— Garon Piceli (@garonpiceli) abril 10, 2012
Logo depois, querendo manifestar um pouco sobre os meus pensamentos, tuitei a mensagem que foi o estopim para uma enxurrada de respostas:
Quando pensei em fazer jornalismo nunca me inspirei no Willian Bonner, pq a única coisa q ele faz é ler notícias no TP.
— Garon Piceli (@garonpiceli) abril 10, 2012
~Teleprompter~
Quando disse que a única coisa que ele faz é ler notícias no TP, na verdade me expressei mal. Eu sei que o trabalho de um editor nacional não é fácil. Hoje eu sei, mas inicialmente quando pensei em fazer jornalismo era isso que eu pensava. Nunca tive o Willian Bonner como inspiração. Porque o seu trabalho não me parece desafiador, como é o verdadeiro trabalho do jornalista. Na verdade eu fico irritado mesmo quando falo que faço jornalismo e as pessoas sem pedirem licença já planejam a minha vida: “Quero te ver no lugar do Willian Bonner”. Mas vamos voltar a pergunta inicial, o que o Willian Bonner fez/faz para o jornalismo? Creio que ele é só mais um personagem da Globo, que tenta a todas as custas glamurizar o jornalismo, com um robusto padrão de qualidade. Isso talvez não seja ruim para os estudantes e profissionais da área de comunicação que sabem que existe uma produção, mas não para os que não entendem nada sobre rebatedor, cross off e grua, por exemplo. O padrão Globo está residindo por muitas vezes na perfeição. Com uma linda voz de quem já foi radialista, com um belo texto de quem já foi redator publicitário e uma presença forte e marcante Willian Bonner tem a receita. A Globo mostrou que usa essa receita ao escolher a Patricia Poeta para substituir Fátima Bernardes na bancada do JN, por exemplo.
@garonpiceli o problema é qdo se começa a confundir jornalista com celebridade…
— Mayara Godoy (@mayara_godoy) abril 10, 2012
Le celebridade
A Mayara Godoy definiu, em partes, todo o meu problema com o que o Willian Bonner representa. Mas neste caso, para a sociedade, Willian Bonner não é jornalista e nem uma celebridade. Ele é quase uma pessoa intocável e por vezes sensível de mais. Capaz de comover multidões. Mas surge aí outra pergunta: “Porque o Bonner tem tanto respeito da população brasileira?”. Ele já defendeu os direitos dos brasileiros ou por acaso já fez algum comentário para valorizar a classe menos favorecida, ou talvez fez uma matéria que revelou o esquema de corrupção do governo? Na verdade WB não fez nada disso. Apenas selecionou as matérias das filiadas e leu no Tele Prompter o que talvez escreveram para ele. Willian Bonner não representa para mim o ícone do jornalista a ser seguido, para mim José Hamilton Ribeiro, o repórter do século, sim.
ps.
Contribuição do @brunomaneh no debate:
@mayara_godoy @garonpiceli será q eu consigo alugar um DVD desse debate? Ta muito interessante… :-P
— Bruno Chagas (@Brunomaneh) abril 10, 2012
Outra contribuição importante foi do @simiaocastro
@garonpiceli Não gosto de falar publicamente pq queima o filme, né. E quero chegar lá um dia. Mas acho superficial, por vezes fingido
— Simião Castro (@SimiaoCastro) abril 10, 2012
Só agora vi o post, Garon! hehehehe
Muito pertinentes suas observações.
Essa imagem distorcida que muita gente tem (em grande parte por culpa do “padrão Globo”) sobre a profissão também me incomoda muito.
Às vezes, sinto que, se não formos lindos repórteres de tevê, sempre arrumados e perfeitos, não seremos valorizados.
Pouco importa se escrevemos bem, ou se o nosso trabalho – muitas vezes bem mais modesto – faz realmente a diferença na vida de alguém.
Tudo o que importa é a imagem, é o glamour, o status.
Hoje, vejo uma modificação na imagem do jornalista. Tenho a impressão que antigamente a profissão era mais respeitada, embora hoje seja mais “admirada”.
Não sei se me fiz entender. Mas, parabéns pelo post. Adoro esses debates ;)
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