Por Letícia Lichacovski.
As malas já estavam prontas. A mudança seria grande. Deixar a cidade para trás em busca de algo novo sempre é, ao mesmo tempo, excitante e amedrontador. Mas ela estava disposta a viver tal dilema. “Estou pronta”, dizia a si mesma, ora em voz alta, ora mentalmente.
O dia seguinte seria puxado. Horas de voo, mais outras de espera no aeroporto e, novamente, mais um longo tempo no ar. Teria que levantar de madrugada e isso já a deixava cansada. “Acho que o jeito é nem dormir”.
A estratégia funcionaria. Afinal, a noite, teria a tradicional festa de despedida. Com família e amigos reunidos. E ele. Claro, todos eram importantes, mas sempre tem aquele “adeus” mais difícil de dizer. Aquele mais doído para sair da garganta, que rasga.
Dito e feito. O encontro aconteceu. Ela sorria por fora e chorava por dentro. Sentiria saudades. Ele estava lindo, como sempre. Sorridente, brincalhão, com tiradas inteligentes. E, como de costume, a olhava de longe.
A noite seguiu com risadas, alguns choros, muitos abraços e “boa sorte”. Ele lá, ela cá. Vez ou outra numa mesma roda de conversa, apenas com olhares se encontrando. Eles sabiam o que os olhos diziam e isso bastava.
Por fim, a casa ficou vazia. Ou quase. Ele ficou. E isso, pra ela, fazia o ambiente se encher mais do que no começo da festa. Não sabiam como agir. O momento da tão temida despedida chegara.
Sem dizer uma palavra, ele simplesmente a envolveu e o tempo parou. “Achava que isso era apenas fantasia de adolescente”, pensou consigo. Mas, não. Ela realmente perdeu a noção de quantos minutos passaram durante aquele beijo e dos seguintes.
Ambos se entregaram ao momento. Esperaram muito por isso, mas o medo de perder a amizade nunca permitiu que tomassem a atitude. Agora, era o que lhes restava fazer. Antes que ela partisse e deixasse tudo para trás. Antes que ele encontrasse alguém. Antes que aquela noite acabasse.
O tempo voltou a passar. Com isso, a hora de ir. As lágrimas nos olhos tornaram a última imagem dele distorcida. O “adeus” não foi dito na forma convencional. Não foi um “até logo”, “tchau” ou “te vejo em breve”. Ele veio com um toque no rosto e uma voz trêmula. “Eu te amo”, ela falou e entrou no carro.
Não demorou muito para que o celular se manifestasse. Em texto, a resposta que ela não o deixou dizer pessoalmente. Sorriu e chorou ao mesmo tempo. Chegou em casa, olhou as malas e pensou em desistir – agora tinha um motivo.
Ao invés disso, foi ao aeroporto, entrou no avião e partiu. Com um pouco de arrependimento no peito, desembarcou no lugar onde buscaria o seu novo “Feliz para sempre”.
Letícia Lichacovski – mais conhecida como Lêca – é blogueira no Cereja no Ombro. É uma linda que ama escrever e contar belas e tristes histórias. Um dia eu fui seu confidente literário em um trama de amor e conspiração. Eu gostaria muito que ela publicasse o que escreveu, mas ela é um pouco tímida.