Certa manhã eu acordei, cheguei no trabalho e fui conferir os drops diários de informações. Claro, para ficar bem informado na internet eu dou uma checada no feed do Twitter, Facebook e Google Reader.
Até que dei de cara com uma propaganda do novo Classe A. Uma tapeada do vídeo de apresentação do carro com o funk AAAAAA Lelek lek lek lek – já sucesso nas redes sociais há algumas semanas. O comercial bombou de acessos e de críticas.
E o que eu acho realmente incrível e quase inacreditável é que as críticas negativas que eu ouvi/li foram de pessoas que trabalham com comunicação social, e que supostamente deviam ter uma visão de mundo muito superior. A começar pela luta da extinção de qualquer discurso fundador negativo, que auxiliam na criação dos preconceitos. Pq estes profissionais precisam saber que a comunicação é feita de subjetividade.
Foram comentários excludentes e babacas, comparados as atitudes de Marco Feliciano e do Bolsonaro. Pq eles não podem falar mal dos gays, mas vocês podem julgar um funkeiro ou um pagodeiro?
Mercedes – Ok, eu entendo que a Mercedes Bens é uma marca consolidada, robusta e “tecnicamente elitizada” no Brasil. E que o funk, no consciente coletivo, não representa este grupo “tecnicamente elitizado”. Eu também concordo que o Classe A é sofisticado e está longe de ser popular como funk dos Leleks.
Por trás da objetividade e superficial da campanha publicitária vamos desafiar o “tecnicamente elitizado” com a seguinte pergunta: “Quem são os consumidores dos hatchs Brasil a dentro?”.
Respondo: Jovens da “elite” entre 25 a 35 anos, da Zona Sul, Jardins e Alphavilles por aí. Aparentemente cultos e letrados. E que adoram ir a um concerto de música erudita alemã. Claro, porque é a coisa mais fácil do mundo ver por aí alguém desfilando com um Mercedes ouvindo Tchaikovsky, Mozart ou Bethoven.
Todas as informações no parágrafo anterior estão corretas menos a última e você sabe exatamente o motivo.
Alguém já parou do seu lado no semáforo e colocou no volume máximo Hallelujah Chorus ou O Fortuna? Claro, Garon! É super normal!
Bom… De posse destas informações eu só posso concluir que além de popularizar a marca nas redes sociais, o hit “No passinho do volante” também atingiu o seu público “tecnicamente elitizado”.
O que eu achei mais horroroso neste caso foi pessoas que se identificam com a marca, ou até mesmo a idolatram, vendo a associação da Mercedes (como já foi dito, uma marca classuda) com um funk (do morro, da periferia – até então “sem classe”). <- Reparou só no preconceito?
É claro que estes discursos fundadores são criados pelas próprias marcas. Elas precisam apenas disso, de privilégio, e o privilégio é que move o consumo, por toda aquela questão teórica da publicidade e blah, blah, blah.
E o que muitas pessoas enxergaram no comercial foi a desconstrução de um “mito” e se incomodaram com isto e irão continuar se incomodando com qualquer mudança que o mundo tiver.